07/06/2009

Nasci e cresci entre livros.

Em nossa casa boa parte das paredes era ocupada por estantes, do teto ao chão. Aprendi a ler sozinha e bastante cedo, talvez ajudada pelo fato de ser muito míope e sentir uma especial atração por coisas miúdas como formigas e letras, que eu enxergava melhor que todo mundo. Lembro claramente da primeira palavra que li: “delícia”, num anúncio de margarina. A partir daí me tornei uma devoradora de textos, saboreando palavras, histórias, descobertas, aventuras...(mas nunca gostei de margarina). Mamãe me deu livros e um espaço na estante: as prateleiras de baixo. E descobri que eu cabia direitinho ali dentro; de um lado colocava meus livros e no outro me deitava, com uma fruta ou pacote de biscoitos, completamente aconchegada no mundo dos livros onde me perdia a perdia noção do tempo. Chamada, não ouvia: o planeta podia parar de girar que eu não me daria conta.

Em casa não havia preconceito quanto ao tipo de leitura. Numa época em que histórias em quadrinhos (gibis, a gente chamava) eram meio demonizadas, eu tinha pilhas de Luluzinhas e Bolinhas, meus preferidos. Disney só veio mais tarde. Herdei a coleção de Monteiro Lobato que fora de minha mãe, encadernada em percalina marrom, com um aroma inconfundível e as figuras todas coloridas à mão por ela. Mas, publicada durante a Segunda Guerra, tempo de racionamento, era de um papel de péssima qualidade e acabou se desfazendo nas mãos desta leitora muito ávida e algo desajeitada. Mais tarde, eu ganharia uma toda minha, mas isso “é uma outra história, que fica para uma outra vez”

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