10/06/2009

Durante mais de quinze anos fui livreira.

Específicamente, livreira-antiquária ou alfarrabista, sócia de minha avó Zelina numa pequena loja de livros raros e esgotados. Chamava-se Leart e foi fundada por meus avós nos anos 1970, início da minha adolescência. Mais tarde, recém separada e pouco depois da morte de meu avô, fui trabalhar com vovó garimpando raridades bibliográficas, primeiras edições de literatura brasileira e estrangeira, livros de arte e outras preciosidades. Pelo menos uma vez por ano publicávamos um catálogo, bastante disputado pelos bibliófilos. E foi justamente para fazer esse catálogo que, por volta de 1990, comprei o meu primeiro computador: um XT de tela escura e letras verdes, e que usava floppy disks (alguém lembra?) Foi destrinchando os seus mistérios que comecei a me encantar, definitivamente, com a informática.


Foto: Nadia Cerini

Quinze anos entre livros e gatos, um trabalho adorável e que permitia me dedicar, sempre havia oportunidade, a outra das minhas paixões: o teatro (essa também é outra história). Mas já neste milênio vovó, chegando aos 90 anos, decidiu se aposentar; eu acabei optando pela Psicologia, área onde hoje consigo integrar meus interessesr multifacetados (sempre fui muitimídia) num projeto terapêutico. Vovó é encadernadora e manteve sua pequena oficina enquanto a artrite lhe permitiu trabalhar com as mãos. Foi ali que, muito cedo, nasceu minha afinidade com o trabalho manual que, depois de muitas idas, vindas e reviravoltas, iria se transformar em opção pelas técnicas expressivas e Arteterapia.

Durante esses anos todos muitos livros maravilhosos passaram por nós; alguns ficaram, mas a maioria – é esta a sina do livreiro – foi vendida. Quantos livros encontraram seu caminho até as pessoas que os amavam através das nossas mãos! Cheguei a fazer uma belíssima coleção de livros para crianças, que acabou se tornando um catálogo temático muito especial. Foi a venda da maior parte dessa coleção que me permitiu viajar para a Inglaterra e fazer um curso de especialização em Dramaterapia.

Mas ouros tantos livros ficaram, formando uma biblioteca que às vezes espanta algumas pessoas que vêm à minha casa (mas você leu tudo isso!?), dá um trabalho desgraçado na hora de fazer uma mudança e um prazer imenso em olhar as lombadas todas alinhadas formando uma parede colorida de histórias, relatos, reflexões, lembranças, sonhos, que são a origem e serão a matéria deste blog.

Um comentário:

Oscar Menezes disse...

Eu te invejo (no bom sentido, é claro). Viver entre livros é maravilhoso. Imagino a dupla sensação: vender um livro que tanto amou e separar-se dele, mas ficar feliz por dividir um pouco da sabedoria ali contida.
Amei o teu blog e vou segui-lo sempre. Tudo de bom pra você.