
Persépolis, relato autobiográfico em forma de história em quadrinhos, de uma menina que aos 14 anos precisa deixar seu país e sua família para viver sozinha na Europa por conta da repressão do governo fundamentalista. A formação de uma guerreira, combatente pela democracia. Sua arma é a mais frágil e delicada que existe e, ainda assim, de efeitos mais profundos do que a bomba de Hiroshima: palavras, histórias, imagens. Me lembrei que, quando vi meu sobrinho de 11 anos a ler o “Diário de Anne Frank”, me encantei ao sentir como as palavras de uma adolescente puderam ser tão poderosas e perdurar através das gerações. A obra de Marjane tem essa qualidade; provavelmente ficará também para sempre.

Persépolis foi publicado originalmente em 4 volumes, e cada um de seus capítulos conta uma história com começo, meio e fim. É delicioso. Seu senso de humor diante da tragédia é surpreendente e estimulante. Os desenhos são simples, num preto e branco cru e impactante, mas de grafismo refinado, cinematográfico, poderoso. Nunca imaginei que uma história em quadrinhos pudesse me comover desta maneira.
Para além da política e da História, embarcamos no relato de uma menina que, tornando-se mulher, descobre o mundo e nos envolve na sua ingenuidade e idealismo. Às vezes delicado, outras irônico, sutil, sarcástico, emocionante. Nos vemos como num espelho em seu relato engraçadíssimo das transformações do corpo na adolescência. Os primeiros amores, a primeira traição. Medos, angústias, inadequação, insegurança, vaidade e a incerteza quanto à própria identidade. E nos inspira por sua capacidade de, apesar de tudo, reinventar-se, amar a vida, ser criativa e acreditar. Por isso, Persépolis devia estar na cabeceira de todas as meninas. Certamente, poderão se identificar com ela. Como eu.
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