Hoje, na missa na igreja de São Bento, enquanto eu seguia à risca as instruções sobre não fotografar, dezenas de pessoas piscavam os flashes de suas câmeras, celulares e tablets e ninguém fazia nada. Depois que terminou, já que a bagunça estava instalada mesmo, achei que não faria mal tirar algumas fotos do vitral, até porque fotografo sem flash. Enquanto usei o banco como apoio para a foto não sair muito tremida, ninguém disse nada mas, quando levantei a câmera ao nível dos olhos para ver as fotos que havia feito, me apareceu uma baixota gordinha e seguiu-se o seguinte diálogo:
– Não pode tirar foto.
– Mas todo mundo está fotografando.
– Mas não pode.
– Todo mundo está fotografando, filmando, e vai sobrar pra mim?
– Sei que está todo mundo fotografando, estou até suando.
– ?
– Um dia, daqui há muito anos, isso vai desaparecer, as pessoas não vão mais ter esse lugar para ver porque você fotografou.
– Mas eu estou fotografando SEM FLASH!
– Não faz diferença.
– Então você é daquela tribo que acredita que a fotografia rouba a alma das pessoas e das coisas?
– ?
Aponto a câmera pra ela, clico.
– Pronto, roubei a sua alma. Agora você também vai desaparecer. Tchau.
(A foto da alma da gordinha saiu assim, num tom marrom-cocô)